Minha casa, minha vida
Clara Prado
Muitas pessoas tem medo de viajar por achar que vão se sentir sozinhas, por estarem longe de seus familiares e amigos. Outros acham que vão sentir muita saudades de casa e que não conseguiriam ficar 6 meses ou 1 ano longe de tudo e de todos. Porém, para mim, este ponto é a grande diferença de quando se viaja a turismo ou para estudar. Quando você vai ficar mais tempo em um país este também se torna sua casa e você constrói relações com as pessoas, lugares, comidas e até mesmo com a língua.
Quando eu cheguei na Austrália eu achava que um ano seria muito tempo e que eu iria constantemente sentir falta de minha casa. Mas eu encontrei outras casas para chamar de minha! Eu fiquei em casa de família e tive a sorte de ter pais e irmãos maravilhosos. Fui tratada como filha. Assim, eu tinha minha vez de lavar a roupa, arrumar a cozinha, cozinhar e até fazer compras. Levei bronca por chegar tarde demais, me ajudaram com a lição de casa quando eu não entendia e me deram colo quando minha Avó no Brasil faleceu. Eles me levavam para comprar roupas junto com minhas irmãs e davam palpite no que me vestir ou não. Eu não estava no Brasil, mas estava em casa.
Fazer amizade foi estranho, no começo. Eu nunca tinha tido a experiência de chegar em um lugar e não conhecer absolutamente ninguém. Ninguém sabia meu nome, nem de onde eu era e nem mesmo se eu fala ou não a língua deles. Mas o estranhamento durou nem mesmo uma semana. Fazer novos amigos pode ser divertido, e se aprende muito sobre a cultura do país que se está visitando e como pessoas da sua idade tem uma cultura tão diferente da sua. Bandas de nomes estranhos, lanches com cara esquisita e perguntas que você nunca achou que iria ouvir. Mas depois de uma, duas semanas, a novidade passa, e eles se transformam em amigos de verdade.
Mas as vezes bate uma saudade e vontade de comer a comida da Vó ou um pão quentinho da padaria da esquina ou até uma feijoada. Para isso servem outros amigos intercambistas. Quando você vai para um outro país é muito pouco provável que você seja o único brasileiro por lá. Com certeza você encontrará pessoas que ou moram por lá ou estão em situação similar a sua, estudando. Estas pessoas te entendem! E sempre sabem onde conseguir algo para fazer você se sentir melhor. Na minha cidade tinha apenas uma outra brasileira fazendo intercâmbio. Nos encontrávamos pelo menos uma vez por mês para conversar e trocar livros em português que eram mandados pelo correio por nossas famílias.
Estudantes de outros países também se transformam em grandes companheiros. Eles podem não conhecer da sua cultura, mas eles sabem como você se sente. No fim somos muito parecidos e sentimos falta das mesmas coisas. Juntos, não nos sentimos sozinhos.
Quando a gente passa um tempo em um outro país e cria relação com as pessoas e com o lugar, entendemos que sua casa não é só o lugar onde a gente nasce, mas sim um local que nós nos sentimos amados e fazemos parte de uma comunidade. Mesmo que esta comunidade fique do outro lado do mundo.