Matheus Cafalchio

Para a maioria das pessoas, iniciar um intercâmbio é a realização de um sonho. É um desejo antigo que finalmente se concretiza. Felizmente ou infelizmente todo inter-cambista viaja carregando na sua bagagem um peso muito grande em expectativas. São essas ideias e sonhos que movem o estudante, que fazem ele deixar seu país, seus amigos e parentes para partir para um lugar desconhecido onde ele só tem informações vindas de terceiros. É claro que hoje em dia o acesso à internet facilita muito a vida do estudante, é possível ter uma boa ideia do lugar onde se vai morar, tanto no sentido físico (fotos e mapas) quanto no sentido cultural.

No meu caso, o que me moveu foi a vontade que se tornou quase uma necessidade de aprender inglês. Comecei pesquisando um lugar onde eu pudesse estudar a língua, um país onde a língua nativa fosse o Inglês. Os primeiros países que vêm em mente são os Estados Unidos e Inglaterra. Fiquei muito animado em ir para a Inglaterra, mas quando comecei a minha pesquisa sobre visto, custos de vida e empregos para um estudante, cheguei à conclusão que seria difícil me manter trabalhando por lá. Comecei a pesquisar sobre outros países como a Austrália, Nova Zelândia, Canadá e Irlanda. Ao final de toda a minha pesquisa somada a minha vontade de conhecer a Europa, optei pela Irlanda, pela facilidade de conseguir um visto de estudante, pelo preço do curso de inglês e também por poder trabalhar enquanto faria meu curso.

IrlandaDublin é uma cidade muito agradável, a arquitetura, a organização e a beleza dos detalhes nas praças públicas e na frente das casas.  Andar pelas ruas de Dublin é como passear em um parque florido. Por ser uma cidade litorânea, possui muitas praias, que apesar de terem águas geladas quase o ano todo, ainda é possível aproveitar a natureza e a paz do mar.

O que realmente torna um lugar o que ele é são as pessoas que estão nele, e isso nenhuma pesquisa pela internet pode revelar. Uma vez um amigo me disse: Quando viajar, conheça as pessoas, são as pessoas que fazem o lugar”. Esta dica me acompanhou em todo meu intercâmbio. E em quase dois anos que morei na Irlanda, conheci mais pessoas do que todo o meu período de colégio no Brasil. Conheci pessoas de várias partes do mundo, amizades que vão perdurar para o resto de minha vida.

Qual o melhor lugar para conhecer pessoas em Dublin? Se fizer essa pergunta para 10 dublinenses, todos eles vão ter a mesma resposta: Vá a um pub, peça uma pint de cerveja e deixe a conversa fluir. Os irlandeses são muito abertos a conhecer estrangeiros, e os estrangeiros que moram ou passeiam por lá também querem fazer novas amizades. Não há como fazer uma comparação entre os bares irlandeses e os bares brasileiros, o pub é mais do que um lugar onde as pessoas vão para consumir álcool. Os pubs abrem normalmente às 10:00h  da manhã e fecham por volta das 2:30h da madrugada. Muitos deles servem almoço e jantar. É comum ver muitos senhores com seus copos de cerveja assistindo jogos nos telões ou simplesmente conversando em qualquer horário do dia. A impressão que dá é que eles moram por lá.

Perto da escola onde eu estudei há um pub chamado McGowans, é um pub tradicional com um ar moderno, como a maioria dos pubs. A decoração é sempre de bom gosto e bem característica. Neste haviam vários ambientes, para ser exato, seis ambientes diferentes divididos em dois andares. Quando a casa estava cheia, todos ficavam abertos. O andar superior é uma grande pista de dança, com luzes e DJ. Em dia de jogos o salão é preenchido com mesas e cadeiras, as pessoas vão para comer, beber e assistir aos jogos. Principalmente jogos de Rugby. Ainda no segundo andar há um salão de jogos, com mesas de sinuca. No primeiro andar são mais quatro ambientes. O meu preferido é o bar com tema musical. Tem uma bateria presa na parede, trompete, guitarra e fotos de grandes músicos. Tudo combinando, demonstrando um bom gosto que deixa o espaço muito agradável. Daria para passar horas ali sentando escutando boa música e bebendo pints de cerveja. Era o que eu fazia. A maioria dos pubs não cobram entrada, mas este, nas quintas e sextas-feiras, a partir das onze começava a cobrar. O engraçado era a senhora que ficava na portaria, deveria ter os seus setenta anos e uma caixa registradora da mesma idade. A senhora tinha uma precisão de relógio suíço e não tolerava um minuto de atraso. São coisas que aprendemos no exterior. No Brasil costumamos atrasar e dar desculpas o tempo todo, isso já é tão comum para nós que ficamos revoltados quando o horário é cumprido. A partir das onze é cobrada a entrada, não é a partir das onze e um. Eu tinha pena da senhora da portaria, porque ela estava sempre cochilando em um ambiente com o som bem alto. A minha impressão é que o dono do bar, por caridade deixou que ela trabalhasse ali para fazer um dinheirinho e complementar a aposentadoria.

Depois de ter sido estudante no Brasil e na Irlanda, posso afirmar que ser estudante na Irlanda é bem mais fácil e divertido do que por aqui. A cidade é voltada para a cultura, tem muita música, teatro, exposições e oficinas dos mais variados assuntos. Temos tudo isso aqui, mas normalmente pagamos muito caro, o que deixa inacessível para a maioria dos estudantes. Para quem está em busca de novos conhecimentos, viver em Dublin é uma ótima opção.  Poderia falar muito mais sobre as experiências de viver na Irlanda e todas elas seriam relatos positivos. Por enquanto ficamos com a beleza natural e o que podemos chamar de cultura de pub, que são as características mais visíveis de um lugar tão rico em todos os aspectos. Portanto se tem vontade de ir além das suas fronteiras e realizar o sonho de morar em outro país, a Irlanda é o lugar.