A Irlanda por um não irlandês
por Matheus Cafalchio

As pessoas sempre querem fazer algum tipo de mudança. Mudam de roupa, de cabelo, de grupo de amigos, de emprego, de carro e por aí vai. Eu sinceramente acho isto ótimo. Eu sempre mudava uma coisa ou outra na minha vida, para não ficar entediado. Até que um dia, resolvi mudar de país. O processo não foi fácil e muito menos rápido, mas aconteceu.

Primeiro veio aquele medo do desconhecido. Não foi um medo desafiador daqueles que nos faz sentir valente ao enfrentá-lo, mas, um medo sem sentido, o qual eu não conseguia nem identificar. Hoje eu reconheço que foi um medo desnecessário e que muita gente o tem. Conheço pessoas que querem viajar, mas deixam o medo falar mais alto. E em cada pessoa o medo age diferente. Meu medo me dizia para eu arrumar um emprego estável, pensar nos meus estudos, não perder tempo da minha vida e da minha carreira. Levou um tempo até eu compreender que viajar é ganhar tempo e que, na verdade, a gente perde muito mais tempo quando fica estático.

Dublin

Quando eu decidi morar fora do Brasil eu não tinha destino, não sabia nada sobre a Irlanda e muito menos queria me mudar para cá. Vim pela primeira vez com o único intuito de estudar inglês. Minha intenção era ficar apenas seis meses, mas fiquei um ano e sete meses. Depois disso, voltei ao Brasil e consegui uma bolsa para fazer meu doutorado aqui e fazem seis meses que voltei. Algumas pessoas me perguntam por que eu voltei para cá e por que escolhi a Irlanda, sendo que há tantos outros lugares do mundo para se viver. Bom, então vou tentar responder a essa pergunta: Por que Irlanda?

Trinity CollegeCom certeza não foi por causa das praias, nem do clima e muito menos da comida. As praias não são tão bonitas quanto as do Brasil, chove e venta quase todos os dias do ano e a comida não é muito diversificada, com muita fritura e batata. Na verdade, eu decidi por causa da universidade. A universidade na qual eu vim estudar, Trinity College, está dentre as 50 melhores do mundo na minha área. A educação aqui é muito boa, 99% da população é alfabetizada e, dentre estes, 89% tem segundo grau completo.

O Trinity College fundado em 1592, tem 17.000 alunos, 16% são estudantes internacionais como eu. Está dentre as 50 melhores do mundo na minha área.

Bom, mas além da universidade, há outras coisas muito interessantes por aqui. Os irlandeses não são os únicos habitantes da Irlanda, andar nas ruas de Dublin, principalmente no centro e nos pontos turísticos, é como dar uma volta ao mundo: você encontra pessoas de todos os lugares passeando ou morando aqui. Ainda não descobri se as pessoas que viajam ficam amigáveis ou se as pessoas amigáveis são as que viajam, mas fiz muitos amigos aqui, do mundo todo. Isso é uma das coisas mais legais para mim: poder conhecer um pouquinho de cada cultura e descobrir que dá para fazer amigos falando outra língua!

Os pubs aqui são considerados os melhores do mundo, abrem todos os dias às dez da manhã e fecham entre duas ou três da madrugada. Muitos deles têm música ao vivo todos os dias e as cervejas são, realmente, muito boas! Não é à toa que os pubs irlandeses são considerados os melhores. Tem muitos pubs aqui, para falar a verdade, tem mais pub aqui do que padaria no Brasil, cada esquina tem um. Sem esquecer do “Temple Bar”, que na verdade não é um bar, e sim um bairro repleto de pubs. É o lugar preferido dos turistas, tem agitação de segunda a segunda. Se vier para Dublin, conheça a noite do “Temple Bar”.

Grafton streetA música faz parte do “espírito irlandês”.: só lembrar que Irlanda é o berço de muitas bandas mundialmente famosas como o U2, The Cramberries, The Pogues etc. Um conhecido meu encontrou o Bono Vox em um Pub, em Dublin, o que não é muito fácil. Mas, se quiser ver o U2 de perto é só ir na noite de natal na Grafton Street. Nesse dia, religiosamente,eles fazem e apresentam na rua onde começaram. Sem contar a Enya, que fez muito sucesso no Brasil com sua música inconfundível, que mora em um castelo aqui em Dublin. Já a música irlandesa que tem origem na música Celta, pode ser ouvida em muitos Pubs tradicionais em toda a Irlanda e o bom é que quase nenhum deles cobra entrada ou cover artístico.

Bom, para quem gosta de história medieval, cerveja, música, gente alegre e paisagens lindas, eu recomendo colocar a Irlanda no planejamento da próxima viagem.

Espero te ver por aqui!